sábado, 13 de outubro de 2012

Assassinato de Loteador parou o desenvolvimento do Parque Tietê

O Parque Tietê (Distrito de Brasilândia), na Zona Norte, viveu dias dificeis poucos anos depois da sua fundação em 1950: O assassinato de seu loteador. 
Originalmente, uma fazenda de eucaliptos cercada pela Serra da Cantareira, de propriedade do oficial do exército aposentado Silvio Bueno Peruche, o bairro nasceu como um loteamento planejado com água de nascente retirada por bomba e luz de gerador fornecidos por Silvio, além de algumas áreas com casas prontas. 
O assassinato brutal do loteador pelo motorista de ônibus Sebastião, um dos compradores de terrenos, também conhecido como Conterrâneo, em 1956, fez com que o desenvolvimento do bairro ficasse subitamente paralisado por muitos anos.
Além de ficarem chocados com o crime, coisa rara naquela região de São Paulo nos anos 50, os poucos moradores se assustaram muito com a possibilidade de perder o investimento nos terrenos e no material de construção. É que surgiu o boato, não confirmado posteriormente, de que as terras seriam griladas. (Terras públicas ou de terceiros, cuja documentação foi obtida através de adulteração, ou de forma improcedente, cuja propriedade não é reconhecida pelo Estado) Aliás, esse foi o principal motivo pela morte de Silvio Bueno Peruche, cujo nome é lembrado na principal rua do bairro. 
Segundo os antigos moradores, uma discussão entre a propriedade e o pagamento dos terrenos levou Conterrâneo a matar, a golpes de faca o loteador. Depois da morte de Silvio, sua mulher Ivone ficou tocando o loteamento. Somente na década de 60 é que os primeiros melhoramentos, como pavimentação, instalação de energia elétrica e construção de escolas começaram a chegar no bairro, que relembra o mais famoso dos rios paulistas. No periodo posterior ao assassinato, os preços dos terrenos caíram muito abaixo dos 12 mil réis pagos pelos primeiros compradores, e alguns simplesmente abandonaram suas casas. 
Primeiro morador do bairro, onde chegou em 1950, vindo de Avaré no Interior do Estado, Ailton da Costa, de 78 anos, tinha a idéia fixa de vencer no futebol. Ex-jogador do São Paulo de Avaré, time de segunda divisão na época, ele comprou o terreno em meio a eucaliptos ao lado da olaria Minotti Armani. O sonho de se tornar atleta profissional foi deixado de lado, mas a vida esteve sempre ligada ao esporte. Em 1969 sagrou-se com o seu Juventus da Vila, bicampeão da Copa DIPO na Várzea, promovida pelo Diário Popular (hoje, Jornal Diário de S.Paulo). O seu gosto pelo esporte fez com que fundasse, na rua Sebastião José Pereira, um campo de futebol que ultimamente, se converteu em fonte de dores e cabeça. ”De quatro anos pra cá, algumas pessoas que não conhecemos, se apossaram do campo cobrando R$ 50,00 dos pobres times do bairro nos campeonatos. Nós que somos os fundadores e fizemos o campo não podemos jogar.” reclama. 
Assim como o futebol marcou a vida de Ailton, a visão do loteador, já desfalecendo depois das facadas desferidas por Conterrâneo, deixou uma marca na história do morador Liberato Silva, conhecido como Mestre Bimba, de 74 anos “Ele estava no banco do carro, com as pernas sangrando e aos poucos foi parando de respirar.” relembra. O assassino, segundo mestre Bimba, se escondeu nos morros e algum tempo depois foi preso e passou quatro anos na cadeia. Depois de sair da prisão, Conterrâneo se tornou evangélico e morreu de causas naturais em 1997. 
Moacir Assunção, Diario Popular, 16/04/1999

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