A Casa Verde, na Zona Norte, sintetiza um movimento populacional comum às grandes cidades brasileiras. Antigamente, era uma pobre área rural, hoje é uma típica região de classe média e média-alta, onde houve uma cruel mudança de perfil habitacional. Os setores mais carentes da população foram, aos poucos, expulsos para as vilas periféricas, pelo progressivo encarecimento de vida. Antigo oásis verde de casas térreas, o bairro se verticalizou e sofreu grandes transformações.
Entre suas grandes marcas históricas está o fato de ter sido o primeiro local onde se plantou café no Estado. Da fazenda Casa Verde, em 1795, já se exportava o produto (que era uma das principais riquezas do Brasil Colonial) para a Europa. Uma carta de 1794, do tenente-general José Arouche de Toledo Rendon, ao seu irmão Diogo de Toledo Lara e Ordonhez, que estava em Lisboa, atesta a plantação da ‘Coffea brasileae fulcrum’ nome científico do café.
A origem do nome do bairro, que chegou a ser batizado como Vila Tietê pelos Vergueiro Rudge, povoadores e ricos proprietários de terras na região, deve-se as sete bonitas filhas do tenente-general Arouche: Ana Teresa, Caitana, Pulquéria, Maria Gertrudes, Gertrudes, Joaquina e Rudesinda, que moravam em uma casa pintada de verde na travessa do Colégio, (atual rua Anchieta) na Sé, e eram muito populares entre os estudantes do Largo São Francisco. Nos fins de semana, elas iam para a chácara do pai, no final da rua Benedito Fanganiello.
A Casa Verde, fundada em 21 de maio de 1913, ainda convive com enchentes periódicas causadas pela proximidade com o Rio Tietê. A idade do bairro foi definida, segundo o pesquisador José Martiniano Sobrinho, a partir da primeira escritura de venda de um terreno na rua João Rudge, ao oficial de Justiça português J.Marques Caldeira.
Imigrante dá vida à praça
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Eiryo Senaha (Foto:Nario Barbosa) |
Sereno e tranquilo quando cuida de suas plantas, porém bravo se a situação exigir. Este é o retrato do japonês de Okinawa,
Eiryo Senaha, de 80 anos, 29 passados no bairro. O imigrante se tornou conhecido em 1991, por tomar conta da Praça do Centenário, uma das mais antigas da Casa Verde. “A praça não tinha nada nos canteiros, agora está toda florida e cheia de placas avisando o povo para não destruir o verde”, orgulha-se.
Ex-feirante e comerciante, Eiryo, chegou no Brasil em 1957 fugindo do Japão pós-guerra. Desde que precisou implantar uma ponte de safena, sua vida é dedicada aos cuidados com a praça. “Já precisei dar muitas broncas nas pessoas que queriam destruir árvores e pegar flores, mas hoje muitas delas trazem plantas”, diz.
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Bonde e ônibus em Casa Verde (1953) |
Uma das primeiras professoras da região, Laura Dorta Ferreira, de 80 anos, desde os 13 no bairro, lembra que a Casa Verde parecia uma fazenda. “Uma vez, caiu um bonde na antiga ponte de madeira. Toda a cidade veio ver o acidente”, relembra. Ela se recorda de uma grande enchente em 1929 que deixou o Rio Tietê “parecendo o mar”.
Outra recordação de infância é a fuga de seu irmão mais novo Joãozinho, já morto, que saiu às escondidas do bairro para se engajar na revolução de 1932, “Ele voltou, bem magrinho, dois meses depois. Foi granadeiro na Revolução” afirma.
Outras grandes figuras do bairro são os atletas Adhemar Ferreira da Silva (1927-2001), Campeão de salto triplo na Olimpiada de Helsinque, Finlândia (1952), e de Melbourne, Austrália (1956), e o campeão mundial de boxe na categoria peso-galo durante quatro temporadas consecutivas, de 1960 a 1964, Eder Jofre.
Fundador projetou Vila Tietê
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Horácio Vergueiro Rudge |
Filho de João Maxwell Rudge (1839-1897), que comprou o Sítio da Casa Verde em 1882, Horácio Vergueiro Rudge é considerado o fundador do bairro. Grande empreendedor, a frente de suas irmãs Ana, Luisa, Olimpia e Paulina, ele projetou a então pacata Vila Tietê, organizando suas primeiras ruas: João Rudge, Casa Verde, Inhaúma (hoje rua Doutor César Castiglioni Júnior), Jaguatetê e as praças do Centenário e Bororé.
Com o passar do tempo foram aparecendo mais interessados nas terras da Vila Tietê, e os irmãos Rudge, com apoio da Prefeitura ou por conta própria, esforçavam-se para levar melhoramentos para a comunidade, constítuida em sua maior parte, por chacareiros portugueses. Em 1915 foi construída a ponte de madeira que substituiu a balsa de João Rudge. Em 1934 foi instalada a ponte de concreto e em 1922, a Light & Power implantou o serviço de bonde para a região. Horácio Rudge morreu na Capital em dezembro de 1929.
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Toledo Rendon |
Considerado um dos mais influentes paulistanos de sua época, o tenente-general José Arouche de Toledo Rendon (1756-1834), pai das moças que deram nome ao bairro, era neto de Amador Bueno da Ribeira, um dos homens mais ricos e poderosos da província. O militar possuia uma grande plantação de chá, vizinha as terras do Barão de Itapetininga, nas proximidades do Anhangabaú, e era dono do Sítio da Casa Verde. Preocupado com o desenvolvimento da cidade, o tenente-general decidiu acabar com a plantação de chá que mais tarde deu nome ao viaduto, e lotear a área, vendendo-a a baixo custo. Ele próprio cuidou da urbanização do terreno, inclusive do largo que leva seu nome. Os Arouche Rendon foram donos do sitio de Casa Verde até 1830.
Moacir Assunção, Diário Popular, mar/1997
Nota Adicional: O Sr. Eiryo Senaha faleceu em 2004, aos 87 anos. Após sua morte, a Praça do Centenário passou por um período de degradação e abandono, sendo remodelada pela Prefeitura em 2012.