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sábado, 13 de outubro de 2012

Em 1974, Campinas viu sua última Corrida de Cavalos

Há muito tempo, São Paulo e Rio deixaram para trás os anos dourados do turfe, mas as corridas de cavalo também tiveram o seu auge em Campinas, apesar de a cidade não receber corridas oficiais desde 09 de maio de 1974, quando foi disputado o último páreo no Hipódromo da Boa Vista. “O Jockey Club de São Paulo explorou Campinas até quando fomos úteis, depois nos abandonou” afirma Antonio Guilherme de Paula Leite, 80 anos, ex-presidente da entidade. 
O Jockey Club de Campinas, fundado em 1870, começou a promover corridas em pista reta, mas em 1877 mudou-se para o Hipódromo do Bonfim em terreno doado pela Prefeitura (com pista circular e capacidade para 8 mil pessoas) e viveu ali os seus dias de glória. “O Hipódromo era bastante frequentado. Vinham pessoas até do Paraná e Rio Grande do Sul” lembra o ex-presidente. “Nos dias de GP (Grande Prêmio), as mulheres usavam chapéus e os homens trajes de gala” 
Quando o Jockey Club de Sâo Paulo mudou-se da Móoca para a Cidade Jardim nos anos 40, não possuia cocheiras suficientes, adicionou Campinas como ponto de apoio, e começou a realizar corridas na cidade uma vez por semana. O local passou a abrigar animais mais velhos e os que se recuperavam de lesões “Os proprietários precisavam continuar investindo”. 
O turfe campineiro começou a entrar em declínio em 1957, quando Ruy Novaes assumiu a Prefeitura. (Ruy Hellmeister Novaes, (1924-2000), foi Prefeito de Campinas de 1956-59 e 1964-69) Polêmico administrador, apagou marcos arquitetônicos como a Igreja do Rosário e o Teatro Municipal, demolidos para alargar avenidas. “O prefeito exigiu a devolução do hipódromo para construir novas ruas” contou Leite. 
O último clássico no Bonfim foi no dia 23 de fevereiro de 1965, o GP Despedida, ganho por Golf, com Dendico Garcia. Três meses depois, o Jockey Club de Campinas prosseguiu com as atividades no Hipódromo da Boa Vista, em terreno de 570 mil metros quadrados, comprado e administrado em conjunto com o JC de São Paulo. Em 1974, o golpe fatal: quando precisou de recursos em razão de dívidas, o JC de São Paulo vendeu o terreno por 600 milhões de cruzeiros e o transformou em Centro de Treinamentos “Também devolvemos o dinheiro que nos foi emprestado ao longo dos anos” lembra Antonio Guilherme. O encerramento teve sete páreos sendo o último, o prêmio José Luiz Rogê Ferreira, em 1300 metros. Entre impostos, prêmios e salários atrasados, as dividas do JC de Campinas somavam 580 milhões de cruzeiros “Como não havia contrato simplesmente aceitamos as imposições” lamenta Leite. 
Piá Vovô
Quando deixou de promover corridas, o JC de Campinas possuia 560 trabalhadores, entre funcionários, jóqueis, trabalhadores e cavalariços. No Centro de Treinamento, que abriga hoje 370 animais, foram preparados os últimos triplices coroados paulistas Cacique Negro e Quari Bravo, além de Pia Vovô, vencedor do Derby Paulista. O JC de Campinas ainda mantém as suas atividades sociais com o aluguel das salas da antiga sede tombada como patrimônio histórico em 1995 “Aquela época deixou saudade” confessa Leite
 Giuliano Villa Nova, Diário Popular, 09/05/2004
Diretoria do JC de Campinas em 1957. O Sr. Antonio Guilherme de Paula Leite é o segundo de pé, da direita para a esquerda.


3 comentários:

  1. Foi um crime o que fizeram com o J.C.Campinas

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  2. Foi um crime o que fizeram com o J.C.Campinas

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  3. O prefeito Ruy Novaes demoliu a Teatro Municipal após pedir laudo técnico para um engenheiro e este constatar que o Teatro estava condenado a desabar. Depois da tragédia do Cine Rink em 1951, o prefeito não queria que algo semelhante se repetisse em sua administração e teve a cautela de pedir laudos técnicos para várias edificações da cidade. É óbvio que desagradou a elite ao pedir a devolução do terreno do Hipódromo, mas a população de baixo poder aquisitivo foi beneficiada.

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