sábado, 27 de outubro de 2012

Rua Alarico Franco Caiubi

A Rua Alarico Franco Caiubi, no Jaguaré, Lapa, Zona Oeste, antes conhecida como rua 17, foi oficializada pela Lei 4.277, de 27/08/1952, tendo um trecho complementar adicionado através do Decreto 5.374, de 13/04/1962, e faz homenagem a um político nascido em Espírito Santo do Pinhal, Interior do Estado, a 05 de fevereiro de 1896.
Formado em Direito pela Faculdade de São Paulo em 1911, foi vereador pelo Partido Republicano Paulista (PRP), entre 1926 e 1929. Após a morte de quatro estudantes, fuzilados pelas forças do governo de Getúlio Vargas, fundou com outros companheiros, o MMDC (Martins, Miragaia, Drausio e Camargo, os quatro estudantes mortos), levante que resultou na Revolução Constitucionalista de 1932, onde também serviu como major.
Secretário de Justiça do Governo do Estado entre 1937 a 1938, foi eleito deputado federal em 1945, morrendo na Capital, a 03 de dezembro de 1949, aos 53 anos, durante o exercício do mandato.

Rua Coronel João Cabanas

A Rua Coronel João Cabanas, no Grajaú, Capela do Socorro, Zona Sul, antes conhecida como ruas H e L, e cuja extensão se situa entre as ruas Alziro Pinheiro Magalhães, estabelecida pelo Decreto 20.834, de 23/04/1985, e a via que terminava após a rua Caméfis, onde hoje faz cruzamento com a Major Lúcio Dias Ramos, e faz homenagem ao militar, nascido em São Paulo, a 23 de junho de 1895. 
Formado na Escola de Oficiais da Força Pública de São Paulo em 1915, como Tenente do Regimento de Cavalaria, participou da Revolução de 1924 ao lado dos revoltosos, e seu grupo ficou conhecido como 'A Coluna da Morte', o que atribuiu diversas lendas sobre humanas sobre sua pessoa. 
Apoiou Getúlio Vargas na Revolução de 1930, porém, divergindo dos rumos do governo, se afastou pouco depois. Foi deputado federal entre 1953 e 1954, e favoreceu a nacionalização do petróleo e a criação da Petrobrás. Morreu na Capital, a 27 de janeiro de 1974, aos 79 anos.

Estrada Dom João Nery

A Estrada Dom João Nery, no Itaim Paulista, Zona Leste, faz homenagem ao bispo fundador de três Dioceses durante a vida eclesiástica. 
Dom João Batista Correa Nery, nasceu em Campinas, Interior do Estado, a 06 de outubro de 1863. Ordenado padre em 1886, foi sagrado Bispo em Roma em 1896, assumindo o posto de Primeiro Bispo de Vitória (ES), ao voltar ao País. 
Foi transferido para a Diocese de Pouso Alegre (MG), em 1901, ocupou o posto até 1908, quando foi nomeado Primeiro Bispo da Diocese de Campinas.
Conde Romano e conhecido como 'Bispo dos Pobres e Enfermos', morreu em Campinas, a 02 de fevereiro de 1920, aos 57 anos.

Rua Aquilino Vidal

Antigamente denominada rua Cruzeiro do Sul, a Rua Aquilino Vidal, na Penha, Zona Leste, foi oficializada pela Lei 4.749, de 15/06/1955, e homenageia um antigo funcionário da Estrada de Ferro Central do Brasil
Quando ocorreu a Revolução de 1924, o governador Carlos de Campos transferiu a sede do Governo do Estado para uma base provisória na Estação Guaiaúna, na Penha. Os revoltosos, comandados pelo General Isidoro Dias Lopes planejaram destruir a estação, enviando para o local, um comboio carregado de explosivos a partir da antiga Estação da Quarta Parada, no Belém. 
O plano dos rebeldes foi frustrado por Aquilino Vidal e alguns companheiros, que, ao serem informados dos planos pelos governistas, desmontaram os trilhos do trem e evitaram dezenas de mortes. Com os trilhos cortados, o comboio descarrilou e explodiu enquanto passava pelo bairro do Tatuapé, sem causar fatalidades.
Mestre Aquilino, como era chamado, morreu na Capital em 1934, aos 69 anos.

Praça Alfredo Weiszflog

A Praça Alfredo Weiszflog, na Lapa, Zona Oeste, oficializada pela Lei 3.957, de 17/11/1950, faz homenagem a um industrial, nascido em Hamburgo, Alemanha, a 29 de novembro de 1872. 
Formado em Ciências Econômicas, Alfried Theodor Weiszflog veio para o Brasil em 1896, para trabalhar com os irmãos Otto e Walter, no ramo de encadernação, papelaria e publicação. Juntos fundaram empresa própria, a 'Weiszflog Irmãos' em 1915, que comprou a 'Companhia Melhoramentos' de produção de papel em 1920, dando origem a Editora Melhoramentos
Alfried foi um dos primeiros diretores da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) em 1928. Os Weiszflog foram magnatas da indústria nacional de derivados de papel, sendo os primeiros fabricantes de papel higiênico e celulose no País.
Morreu em São Paulo, a 05 de setembro de 1942, aos 70 anos.

Rua Zezé Leone

A Rua Zezé Leone, na Casa Verde, Zona Norte, faz homenagem a Primeira Miss Brasil, cujo nome foi, durante muito tempo, usado popularmente como referência à uma mulher bonita.
Nascida em Campinas, Interior do Estado, em 1903, Maria José Leone cresceu em Santos e já havia sido nominada por uma revista local como 'a jovem mais bonita da cidade', quando venceu outras 319 candidatas e se tornou a Primeira Miss Brasil, em 1922, mas só pôde receber sua coroa no ano seguinte, devido a problemas na organização do evento.
Devido a sua popularidade, teve seu nome dado a uma sobremesa, uma locomotiva da Estrada de Ferro Central do Brasil, um Prêmio de Futebol e teve um busto erigido em Santos, onde residia quando morreu, em 05 de dezembro de 1965, aos 62 anos.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Avenida Doutor Enéas Carvalho de Aguiar

A Avenida Doutor Enéas Carvalho de Aguiar, em Pinheiros, Zona Oeste, antes conhecida como avenida Doutor Adhemar Pereira de Barros, que atualmente serve de acesso para o complexo do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, teve seu nome modificado pela Lei 5.613, de 08/06/1959, passando a fazer homenagem ao médico sanitarista, que nasceu em Capivari, Interior do Estado, a 16 de fevereiro de 1902. 
Enéas e Adhemar de Barros (1933)
Formado pela Universidade Federal de Medicina do Rio de Janeiro, foi nomeado inspetor do Sanatório de Cruzeiro, pela Secretaria de Saúde Pública do Estado em 1928, sendo depois transferido para Bauru, onde instalou e dirigiu o Sanatório Aimorés, para tratamento da lepra, em 1933.
Exerceu os cargos de Diretor do Serviço Social de Menores da Capital, Diretor Administrativo do Hospital das Clínicas, Superintendente do Hospital Beneficência Portuguesa e Presidente da Associação Paulista de Hospitais.
Morreu na Capital, a 04 de setembro de 1958, aos 56 anos, vítima de um ataque cardíaco.

Por mais de Dois Séculos, a Varíola foi o Maior Flagelo da Capital

Desde a sua fundação em 1554 até o início do Século XIX, São Paulo teve como maior flagelo um inimigo invisivel e implacável: a varíola ou 'bexiga' como ficou popularmente conhecida no Pais. Responsável por milhares de mortes nas Capitanias de São Paulo e São Vicente, o mal só foi contido com a descoberta da vacina contra a moléstia.
A praga se abateu sobre os paulistas pouco tempo depois da conquista do planalto. Em 1563 dizimou populações indígenas da Capital e fez desaparecer várias aldeias criadas pelos jesuítas. O pior período foi entre 1730 e 1799, quando a varíola se transformou em epidemia levando ao desespero os governadores da época, que pouco ou nada podiam fazer. Casas abandonadas e ruas abarrotadas de ‘bexiguentos’ eram cenas comuns. Para complicar, os médicos eram poucos e a higiene pública e o saneamento da cidade deixavam muito a desejar, com esgotos a céu aberto e lixo jogado por toda parte.
As populações, livre e escrava, pagavam as conseqüências, pois apanhavam quaisquer doenças – de um simples resfriado até moléstias mais graves como lepra e tuberculose – e se viam sem atendimento. Em São Paulo, nas primeiras décadas do século XVIII, só há registros dos trabalhos dos médicos Simão Ferreira Machado e de Antônio da Silva da Mota. Este último passou pelo crivo do cirurgião-mor de Lisboa, que o considerou apto e suficiente para a profissão.
Em 1722, o Senado da Câmara Paulista finalmente tomou providências exigindo a presença de facultativos (profissionais de medicina) na Capital. Para isso, os senadores aprovaram honorários de 200 mil reis por ano aos médicos que tratassem dos doentes pois, na época, eram preocupantes os casos isolados de variola. Em março de 1724, o Senado convocou o médico Antônio da Mota para realizar uma rigorosa inspeção no único sanitário público da cidade. O capitão-general e governador Rodrigo Cesar de Meneses também tomou providências e exigiu a retirada dos infectados de suas casas em um período de 24 horas para a área de Tabatinguera “diante do Carmo, a última casa.” Quem desobedecesse ao mandado seria multado em 6 mil reis.
No ano seguinte, o capitão-general Meneses mandou afixar novo edital (03/09/1725) contrariando a determinação anterior. Ordenou que os médicos cuidassem apenas dos ‘bexiguentos’ com residência fixa, sob pena de serem condenados a seis meses de prisão na Fortaleza da Barra de Santos, e uma multa de 40 mil reis, dinheiro que seria doado às famílias pobres enlutadas. Além disso, estabeleceu que os doentes tratados em suas casas seriam forçados a ficar em quarentena, enquanto os sem tetos separados por mulheres brancos e negros ocupariam sobrados na Rua Boa Vista, no Centro da cidade.
Não há documentos oficiais sobre a epidemia de varíola de 1731. Considerados os principais responsáveis por este surto, pois muitos chegavam ao País já infectados, os escravos eram colocados de quarentena em locais na entrada da cidade. Os brancos também eram levados para locais mais afastados, como o Pacaembu, onde depois o governo construiu um hospital.
A peste não poupou nem mesmo os membros da Câmara. A sessão de 26 de maio de 1731, por exemplo, compareceram apenas o juiz e vereador Antonio Pinto Duarte e o procurador Pedro Taques Pires. Novos vereadores foram chamados as pressas para substituir os colegas vitimados pelas bexigas. Sem tratamento, o único método era o isolamento radical.
Luís António de Sousa 
Botelho Mourão, 
4º Morgado de Mateus 
(1722 - 1798)
A varíola estabeleceu uma trégua com a população durante trinta anos, voltando sem muita violência em 1762 e 1768. Pragas como a icterícia e a lepra começaram a ser mais frequentes a partir desta época. Juntaram-se ao mal das bexigas em 1769, constituindo-se na segunda epidemia grave do Século XVIII. Impotentes, os governadores gerais apelavam para o sobrenatural. Em 03 de novembro daquele ano, o governador Morgado de Mateus escrevia a um colega conhecido como General de Angola, sobre a sua decisão de buscar na Penha, a imagem de Nossa Senhora, para que todos os paulistanos rezassem pedindo o fim da epidemia.
Outras tentativas para debelar o mal chegaram a ser bizarras, como conta o capitão-general Martim Lopes. Em razão do excessivo estrago e mortandade, as autoridades paulistanas decidiram lançar rebanhos de bois e carneiros pelas ruas da cidade, imaginando que conseguiriam atrair a força da peste, desviando-a dos humanos.
Em 1770, o Senado endureceu na luta contra as bexigas. Chegou ao ponto de mandar um morador da Rua São Bento a retirar de sua casa, em 24 horas, quem estivesse infectado. Além disso, os senadores estabeleceram uma antiga medida de emergência, determinando que os poucos cirurgiões disponíveis na Província examinassem todos os escravos novos que chegassem à São Paulo. Os donos dos escravos contaminados eram intimados a retirá-los da cidade. Uma terceira epidemia, em 1777, levou o Senado a estipular uma multa de 50 mil réis a quem escondesse doentes em casa.
Duras, essas regras do Legislativo eram frequentemente ignoradas pela população, que não mudou de idéia nem mesmo nos surtos de 1784 e 1791. Os variolosos viviam em esconderijos, nas casas, ou mesmo nas ruas, sempre atentos a batidas promovidas por oficiais de justiça e capitães do mato a mando dos senadores. Essa resistência contribuía para que de tempos em tempos, a varíola ressurgisse ainda com mais violência.
Bernardo José Maria de Lorena e 
Silveira, 5º Conde de Sarzedas, 
(1756 - 1818)
Foi o que aconteceu em 1798, quando uma nova epidemia que começou em Santos tomou conta do território paulista. O governador Bernardo José Maria de Lorena determinou o afastamento dos infectados do Centro da Capital, o que causou protestos da população. O historiador Afonso de Taunay, autor de um profundo estudo sobre São Paulo do Século XVIII, lamentou a decisão de Lorena: “Quanto era duro e lastimoso, que pais e mães fizessem partir os filhos (e até mesmo os escravos) para lugares distantes, onde não havia professores nem remédios, temporais ou espirituais.”
Naquele mesmo ano, o cientista inglês Edward Jenner descobriu a vacina contra a varíola, que o sucessor de Lorena, o capitão-general Antônio Manoel de Castro Melo e Mendonça, se apressou em trazer para São Paulo. Os estoques do medicamento eram, contudo, insuficientes e, para piorar, houve resistência à vacinação pelos santistas e paulistanos, que temiam qualquer inovação científica. Segundo Afonso de Taunay, o sistema de inoculação empregado era mais eficiente do que em Portugal e no resto da Europa, mesmo assim, só em meados do século XIX a população aceitou o uso da vacina. A descoberta de Jenner causou a queda na incidência da varíola e as epidemias praticamente desapareceram.
Capela Velha do Ó
Semanas antes da aplicação das primeiras doses da vacina, Castro Melo e Mendonça solicitou à Câmara, que não permitisse o enterro de doentes dentro do perímetro urbano da cidade. Os que viessem a falecer no único hospital de isolamento em São Paulo, criado no Sitio do Pacaembu, deveriam ser sepultados na Capela do Ó, (na hoje, Freguesia do Ó), sob vigilância do padre João Franco da Rocha.  Os cadáveres começaram a ocupar o adro (área externa ao redor) da igreja que, em pouco tempo, ficou superlotada de pobres e escravos, as familias brancas também eram sepultadas na capela do Ó, oriundas de chácaras e sítios afastados.
No inicio de 1799, a varíola finalmente estava sob controle, desde dezembro do ano anterior nenhum doente fôra recolhido no hospital do Pacaembu. Em todas as cidades e vilas, já haviam cirurgiões que acompanhavam as ocorrências e estudavam as formas de prevenção. Como reconhecimento ao trabalho médico, o príncipe regente D. João VI determinou às Câmaras do Império, a criação de um imposto para remunerar e manter a atividade dos profissionais de saúde, bem como a intensificação da vacinação.
Quando a vacina antivariólica se estendeu até a maioria dos paulistanos, o número de infectados diminuiu consideravelmente. Ainda assim, foi registrada uma nova epidemia em 1808, vitimando muitos moradores da Capital que tinham ignorado a vacina. No período de 1799 a 1809 foram contabilizados 2.406 óbitos, sendo destes, 1.039 de varíola, quase 50% do total.
No século passado, o reaparecimento das bexigas tornou-se cada vez menos frequente. A descoberta da vacina por Jenner e as medidas preventivas tomadas pelo Governo do município a partir de 1808, contribuiram para diminuir as estatísticas da doença. A construção de um hospital militar na cidade, destinado aos soldados e escravos, e de uma chácara especial para isolamento de doentes, além de inspeções mais rigorosas dos escravos que chegavam ao núcleo colonial, possibilitaram a transformação do quadro atemorizante da saúde paulistana. Uma coisa porém é indiscutível: se não fosse o pequeno número de habitantes da São Paulo do século XVII, as epidemias de varíola teriam assumido a violência e a extensão das grandes pestes européias.
Edward Jenner (1749 - 1823)
A era das vacinas teve inicio pelas mãos do médico e cientista inglês Edward Jenner que isolou o vírus causador da varíola e descobriu um antídoto eficaz contra a doença. Jenner recolheu vários depoimentos de criadores de gado leiteiro na região de Gloucestershire, sua terra natal, sobre o contágio em seres humanos. Os fazendeiros acreditavam que a resistência ao virus da varíola humana era maior quando havia contaminação por um tipo atenuado da moléstia, causado pelo contato com o gado da raça vacum, que causava uma reação benigna no homem. Jenner resolveu testar essa hipótese em 1796, extraiu certa porção de serosidade (liquido semelhante ao soro sangüineo) do braço de uma leiteira que contraíra a varíola bovina, e a inoculou em um rapaz. O médico confiava na inoculação e, mais tarde, confirmou sua crença. O organismo do rapaz recebeu a varíola humana e não apresentou sinais da doença.
Thomas Babington 
Primeiro Barão de Macaulay 
(1800-1859)
A vacina de Jenner, contendo o vírus da varíola bovina foi um sucesso, mas nem por isso ele foi reverenciado. Ao contrário, o médico inglês quase foi eliminado da comunidade cientifica da época. O historiador britânico Thomas Macaulay chegou a definir Jenner como o “mais terrível dos ministros da morte.” Seus colegas, contudo, tiveram que se curvar ao poder da vacina.
Mais duro do que a luta contra a varíola, foi seu embate contra a ignorância e obscurantismo da época. Na Europa, a idéia das inoculações como forma de imunizar o organismo humano chocava os mais supersticiosos, que entendiam na variola um ’castigo de Deus’ ao qual ninguém tinha o direito de se opor. A reação à Jenner foi tanta, que foi tema até para charges, uma delas entitulada ‘A pústula vacinica ou o maravilhoso efeito da nova inoculação!’ Mostrando o médico inoculando pacientes com ‘vacina fresca de pústula de vaca’ enquanto várias vacas em miniatura brotam de partes dos corpos dos vacinados.
Matéria da autoria de Carlos Alberto Pacheco, publicado na Revista Já (23/11/1997).

Pouco antes de se "aposentar", o cardeal D. Paulo Evaristo Arns relembrou encontros que teve com militares durante a Ditadura.

D.Agnelo Rossi (1913-95)
 Em dezembro de 1968, quando se fechou o Congresso e foi decretado o Ato Institucional nº 5, o atual Arcebispo Emérito de São Paulo, cardeal D. Paulo Evaristo Arns ainda era bispo-auxiliar. Cuidava principalmente dos assuntos da área de comunicação da Arquidiocese. Sua situação começou a mudar quando, no final de 1969, o então arcebispo D. Agnello Rossi chamou-o e pediu que acompanhasse a situação de um grupo de frades dominicanos, presos sob a acusação de envolvimento com a guerrilha urbana. A partir dali, D. Paulo passou a interessar-se mais pela causa que o tornaria mundialmente famoso: a defesa dos direitos humanos.
Quartel da Policia Militar, Tiradentes, SP
No Tiradentes, hoje Quartel da Policia Militar do Estado de São Paulo, conheceu a realidade dos porões do regime militar, a devastação causada pela tortura nos prisioneiros. Logo passou a cuidar de outras pessoas, além dos dominicanos.
Com o decorrer do tempo, transformou a Cúria Paulistana numa espécie de guarda-chuva ao qual recorriam quase todos os perseguidos do regime. Até o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi bater em sua porta. Isso levou o cardeal a ter constantes contatos com os militares, a quem pedia noticias de pessoas desaparecidas e também pelas suas vidas. Nem sempre o recebiam bem, Certa vez chegou a ficar quase sete horas numa sala de espera de um general. 
Até hoje, D Paulo havia falado pouco sobre isso. Em setembro de 1996, porém, durante um depoimento ao jornal Estado de S. Paulo, a propósito de seu iminente afastamento da Arquidiocese, por ter completado 75 anos, ele lembrou os contatos com os generais. Conseguiu recordar aspectos positivos da maioria deles. Uma notável exceção foi o presidente Emilio Garrastazu Médici. O cardeal não se esquece do único encontro que tiveram, no qual o general gritou com ele, recusando-se até mesmo a receber um presente enviado de um católico de São Paulo. Também houve casos de generais que se tornaram amigos de D. Paulo, como os generais Dilermando Monteiro e Golbery do Couto e Silva.

“Os Militares diziam que eu era subversivo.”

Como foi o inicio de suas relações com os militares?
Quando assumi já era conhecido, pelo fato de ter visitado várias vezes os presos politicos, a pedido de D Agnello Rossi. Diziam que eu era subversivo. Me contaram que quando fui nomeado arcebispo, o comandante da região militar disse: “Entre tantos que existem por aí, o papa tinha que escolher justamente o subversivo?”.


Gen. José Canavarro Pereira
No ano de sua posse, o Comandante do II Exército era o general Canavarro. Como eram as suas relações com ele?
Conversamos várias vezes, tanto no quartel quanto em minha casa, sobre as relações entre a Igreja e o governo. Um dia veio sozinho à minha casa, falamos durante um bom tempo e no final ele me disse que estava lendo o Evangelho. Depois afirmou que comparado com Cristo, eu nem era assim tão subversivo. Foi substituido pelo general Humberto de Souza Mello, um homem muito mais dificil. Nunca quis me receber pessoalmente e só falei com ele poucas vezes, por telefone.
General Humberto de Souza Mello
Gen.Ednardo D'Ávila Mello (1911-84)
O general Ednardo D’Avila Mello, que veio a seguir tambem era da linha dura. Foi durante o comando dele que morreu o jornalista Vladimir Herzog, Ele falava com o senhor?
O Ednardo era muito educado, Um dia na minha casa ele disse: “O senhor está cumprindo o seu dever de bom samaritano e eu o respeito por causa disso, mas eu sou o general e a minha missão é a guerra, a limpeza do Brasil.” Eu não concordava com isso, é claro, e dizia a ele. Tinhamos idéias diferentes, mas ele me recebia com fidalguia todas as vezes que eu pedia. Imediatamente. Sob seu comando, porém, as pessoas continuavam sendo torturadas e mortas. Desse período lembro de um episódio no qual estava envolvido o ex-presidente Fernando Henrique. Ele me procurou certa noite, dizendo que alguns colegas dele no Cebrap haviam sido presos e estavam sendo torturados. Na madrugada, escrevi uma carta para o Ednardo e mandei entregá-la no quartel. O general foi avisado, e às 7 horas estava na minha porta. Dias depois, os companheiros de Fernando Henrique foram libertados.

Gen.Dilermando Monteiro
 O senhor teve boas relações com o general Dilermando Monteiro, que era favorável à abertura politica?
Nos tornamos amigos. Amicíssimos, Em mais de uma ocasião ele me confidenciou segredos politicos que até hoje não me sinto à vontade para falar. Ele não era católico, mas se dizia espiritualista. Num dos aniversários da Revolução militar de 31 de março, pediu que eu celebrasse uma missa comemorativa, “É um pedido pessoal”, falou. Mas eu não aceitei e expliquei: “Durante o governo dos militares, muita gente foi e continua sendo torturada” Mais tarde ele também me negou um pedido. Foi quando quis ver as salas onde as pessoas eram torturadas.
O prefeito Olavo Setúbal (1923-2008), Gen. Dilermando Gomes Monteiro (1913-94) e o governador Paulo Egydio Martins (1928-   ), no final dos anos 70.
Golbery do Couto e Silva (1911-87)
O que o senhor diz do general Golbery do Couto e Silva, o mentor da distensão?
Acho que foi um personagem importantísimo na história do Brasil. Antes do general Geisel assumir a presidência, e ele se tornar chefe do Gabinete Civil, me procurou. Nos encontramos no Rio, na casa do Cândido Mendes, irmão do arcebispo de Mariana, D. Luciano Mendes de Almeida (1930-2006). Conversamos durante quase cinco horas. Ele me disse que tinha horror à tortura e que o Geisel estava decidido a acabar com aquele estado de coisas. Me garantiu. Mas as coisas não mudaram logo que eles assumiram e eu cheguei a ter duvidas. Uma vez quando aumentava a repressão em São Paulo, juntei um grupo de quase 40 pessoas, incluindo advogados de presos politicos, pessoas que haviam sido torturadas ou presenciado torturas e fomos à Brasilia. Convidamos Golbery para uma reunião na sede da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e ele topou. Durante uma tarde inteira ouviu os depoimentos daquelas pessoas. Ficou comovido e na despedida quando estava saindo de carro, baixou o vidro e me disse “Infelizmente ainda não conseguimos limpar os quartéis.”

Gen.Golbery
Tiveram outros contatos?
Vários, Era um grande conversador, Informadíssimo.

Gen. Ernesto Geisel (1908-1996)
O senhor encontrou-se com o general Geisel?
 Apenas uma vez durante a inauguração do metrô em São Paulo. Não pudemos conversar. O Geisel se incomodou muito por causa do ato Ecumênico que foi realizado na Catedral da Sé em memória do jornalista Vladimir Herzog, morto durante tortura, em 1975. Indiretamente, por intermédio do governador Paulo Egidio ele pediu que eu não fosse. Dois secretários do governador vieram à minha casa e usaram todo tipo de argumento para me convencer. Disseram até que o Herzog era judeu e os católicos não iriam entender. No final ameaçaram, disseram que a Praça da Sé estaria cercada por policiais e que eles iriam atirar a qualquer grito.

Gen.Emílio Garrastazu Médici (1905-85)
O senhor chegou a ser destratado por algum militar?
Sim, pelo general Médici. Quando ele era presidente, os bispos de São Paulo me incumbiram de ir até ele para falar sobre as prisões que estavam ocorrendo no Estado. Alguns bispos não acreditavam que o Médici soubesse. Consegui marcar uma audiência com ele, sob o pretexto de entregar-lhe uma cópia da encíclica Rerum Novarum, do Papa Leão XIII. Era uma edição artística feita por um católico paulistano, que queria presenteá-lo. Cheguei, nos cumprimentamos, eu entreguei o presente e expliquei que era o primeiro grande documento social da Igreja. Ele afastou com a mâo, dizendo que não queria. Já fiquei constrangido, mas, ainda assim, tinha que dizer a ele o que os bispos de São Paulo haviam me confiado. Mal comecei a falar, ele me interrompeu, num tom autoritário: “Isso não é com o senhor. Cuide de sua sacristia que nós cuidamos do resto. Não arredaremos nem um milímetro em nossas posições.” Ele exaltou-se, ficou arrebatado, começou a gritar. Eu baixei a minha voz, disse que não havia ido lá para provocá-lo, mas informar, pedir. Ele retrucou: “Sobre isso não converso.”

Como acabou o encontro?
Carlos Alberto Alves 
Carvalho Pinto (1910-87)
De maneira rude. Em menos de cinco minutos ele me colocou para fora da sala. Até hoje não consigo imaginar como ele pôde governar um país como o Brasil. Mais tarde, durante um almoço, comentei o episódio com Carvalho Pinto, antigo governador de São Paulo. Ele me falou que Médici era daquele jeito mesmo, “É um homem monossilábico.” afirmou.  Contou de uma viagem oficial que fizera à Europa com o general e na qual não conseguira conversar sequer sobre amenidades com ele. No avião, Médici ficou a maior parte do tempo olhando pela janela.
Roldão O. Arruda (O Estado de S. Paulo, 08/09/1996)

Nota: D. Paulo Evaristo Arns completou 91 anos em 14 de setembro último. Nascido em Forquilhinha (SC) em 1921, é frade franciscano. Sagrado Bispo em 1966, foi nomeado Quinto Arcebispo da Cidade de São Paulo em 22 de outubro de 1970. Recebeu o título de 'Doutor Honoris causa" por seu desempenho pelos direitos humanos, em 1977, nos Estados Unidos, juntamente com o ex-presidente norte-americano Jimmy Carter. Fundou a Pastoral da Criança em 1985, junto com sua irmã, a pediatra Zilda Arns Neumann (1934-2010). Em setembro de 1996, ao atingir a idade de 75 anos, de acordo com o hábito eclesiástico, apresentou sua renúncia ao Papa, deixando a Arquidiocese da Capital em 15 de abril de 1998, quando se tornou Arcebispo Emérito de São Paulo.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Rua Leão XIII

A Rua Leão XIII, fica na Casa Verde, Zona Norte, e antigamente fazia parte da rua Alfredo Pujol, passando a se chamar Leão XIII, após o Decreto 3.838, de 07/01/1950. O nome escolhido é uma homenagem ao Papa Leão XIII, nascido Vicenzo Gioacchino Raffaelle Luigi Pecci, em Carpinette, Itália, a 02 de março de 1810. 
Educado pelos jesuítas e ordenado sacerdote em 1837, foi Nuncio apostólico na Bélgica, Arcebispo da Perúsia e Cardeal em 1853, sendo eleito Papa em 1878.
Promoveu a aceitação da República da França pelos católicos, encorajou as missões na África, estimulou a renovação intelectual eclesiástica e criou uma Comissão Biblica, interessando-se ativamente pala questão social. Morreu no Vaticano, a 20 de julho de 1903, aos 93 anos

Praça Yolanda Penteado

Oficializada pelo Decreto 24.527, de 04/09/1987, a Praça Yolanda Penteado está localizada no logradouro delimitado pela rua Avaré e pela viela Cunhaqueba, na Consolação, Zona Central e faz uma homenagem à mulher que foi responsável pela criação do Museu de Arte Moderna de São Paulo
Yolanda e Ciccillo
Fazendeira e colecionadora, Yolanda de Ataliba Nogueira Penteado nasceu na Fazenda Empirio, no Interior do Estado, a 06 de janeiro de 1903. Descendente de familia tradicional paulista, mudou-se para a Capital em 1910. Casou-se com o conde Francisco Matarazzo Sobrinho, o 'Ciccillo' Matarazzo (1898-1977) em 1947, e passou a incentivar as artes. Durante uma viagem à Europa com o marido, começam a coletar as obras de arte que formariam o acervo do Museu de Arte Moderna (MAM), que seria fundado pelo casal em 1948. Juntos, eles organizaram a Primeira Bienal Internacional de São Paulo em 1951, e o primeiro Festival Internacional de Cinema de São Paulo em 1954, (O primeiro do gênero no país). 
Yolanda e o Presidente Garrastazu Médici (1971)
Yolanda e Santos Dumont
Separou-se de Ciccillo Matarazzo em 1961, e posteriormente, uma crise com os diretores do MAM fez Ciccillo extinguir a fundação e doar todo seu acervo para o que se tornaria o Museu de Arte Contemporânea da USP (MAC) em 1963. Em 1976, Yolanda lançou a biografia ‘Tudo Cor de Rosa’, onde narra as memórias de sua juventude. Morreu em Stanford, Estados Unidos, a 14 de agosto de 1983, aos 80 anos, vítima de câncer.